02 agosto 2009

 

Que nem amebas

Que nem amebas

por Ruy Castro


Antes dos Sarney, um clã notório por formação de quadrilha, digo, formação de família, foi os dos irmãos Frank e Jesse James, no Velho Oeste americano. O cinema os imortalizou em vários bangue-bangues.


Sim, eles eram apenas dois, mas a família se compunha também dos irmãos Quantrill e Ford, três ou quatro de cada um. Juntos, usando máscara e aquelas sugestivas capas de viagem chamadas guarda-pó, eles assaltavam trens, bancos e diligênciasnão para dar aos pobres mas dar para eles mesmos, que também eram pobres, até que, com tantos assaltos, deixaram de ser.


Os Sarney, compostos do patriarca Ribamar e vários filhos, se expandem em vários netos, sobrinhos, genros, noras e cunhados, todos com gordos empregos públicos. Como amebas que se dividem e se multiplicam, os Sarney incluem também as namoradas deles, e até os irmãos delas, numa insaciável fome por vagas no Senadovagas essas que, uma vez ocupadas, tornam-se “da família”.


Embora pudessem se nomear uns aos outros, a dita conquista de espaços passa pelo crivo do Sarney-mor, o qual cuida de que a família tenha também gente de fora, tipo cafeteiras e agaciéis, para garantir o funcionamento da ciranda. Que não se destina, evidentemente, à conservação desses empreguinhos, mas ao uso deles para o bom andamento dos negociões.


Um dia, Jesse James, chefe da família, digo quadrilha, resolveu se aposentar. Sua cabeça estava a prêmio, e a recompensa por quem o entregasse, vivo ou morto, era polpuda. Bob Ford, um de seus asseclas, estava na pindaíba. Sabendo onde o ex-chefe morava, foi até e, disparando pela janela, matou-o pelas costas enquanto ele pendurava um quadro. Se Jesse tivesse se aferrado ao posto, conservado sua majestade, ninguém o trairia.


Publicado no Diário da Manhã, sábado 18/07/2009


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