08 maio 2007

 

Stockcar ilusória



A dura realidade do momento do automobilismo brasileiro. Curto, grosso e preciso.


Lições dos hermanos

Por Flavio Gomes

Domingo tem Stock em Curitiba. É o que sobrou do automobilismo brasileiro, ao lado da Truck — que talvez deva ser chamada de “camimobilismo”. O resto faliu. Categorias de monopostos nacionais acabaram, as competições de marcas, idem, poucas pistas podem ser usadas, e se ainda temos corridas por , nos torneios regionais, isso se deve à abnegação de pilotos e preparadores.

Apesar desse estado lamentável, vamos ouvir no domingo pela TV que o automobilismo brasileiro é um sucesso, que temos 50 carros na V8, não sei quantos na Light, patrocinadores fortes, ex-pilotos de F-1 competindo por aqui, que a categoria é super competitiva porque tem X pilotos no mesmo segundo, e o quadro será lindamente pintado com as cores fortes dos laboratórios de genéricos. Nunca vivemos um momento tão brilhante e promissor, em resumo.

Nada mais falso. A Stock é tão frágil quanto uma bolha de sabão, para fazer uma analogia fácil e boba com suas bolhas que procuram imitar carros que vendem mal cobrindo chassis antiquados, de mecânica igualmente defasada — e sem a participação efetiva das fábricas envolvidas, que não querem saber da corrida, mas sim de levar convidados para ver mulheres bonitas desfilando pelo paddock.

Para quem não sabe, VW, Mitsubishi, Peugeot e GM não produzem um parafuso sequer dos carros que levam suas marcas. O modelo escolhido pela VW, Bora, é feito no México. O Lancer, da Mitsubishi, vende estonteantes 60 unidades por ano no Brasil. O 307 não chega a ser um estouro de público e o Astra é um projeto envelhecido. Pergunte a funcionários da área técnica das quatro montadoras se existe alguém acompanhando de perto o que se faz na Stock e a resposta, muitas vezes, poderá ser "o que é Stock?".

Enquanto isso, aqui do lado, na Argentina, o automobilismo bomba. Com quase 40 autódromos funcionando, os hermanos correm de tudo. Inclusive de “multibolha”, como a Stock. A Top Race V6 é muito parecida, com chassis tubulares e motores de 3 litros e 350 hp preparados pela Berta. A diferença é que o número de bolhas é bem maior, de nove marcas diferentes — Ford Mondeo, Renault Laguna, VW Passat, Citroën C5, Chevrolet Vectra, Peugeot 406, Alfa Romeo 156, Mercedes e BMW. E muitos carros são patrocinados por clubes de futebol, entre eles Boca e River.

Isso para não falar da monumental TC2000, com carros de verdade feitos por sete montadoras diferentes (GM, VW, Honda, Ford, Renault, Toyota e Chrysler), da tradicionalíssima Turismo-Carretera, dos protótipos da GT2000, das categorias monomarca apoiadas por montadoras... Tudo com arquibancadas cheias, torcidas organizadas, programas de rádio e TV, dezenas de revistas e cobertura ampla dos jornais.

E a gente achando que viver de Stock basta.

Extraído em 03/05/2007 de Grande Prêmio - www.warmup.com.br


 

Chega de impostos!

Chega de impostos!

Até quando vamos ficar parados, feito patos de tiro ao alvo?!

Por Cora Rónai

Na segunda passada, terminamos todos, ou quase todos, de entregar nossas declarações de renda ao governo -- como carneiros que, a caminho do matadouro, entregassem aos açougueiros os machados com que serão abatidos. Em outros tempos, quando a carga tributária asfixiava assim a população, as pessoas pegavam em armas e demonstravam, de forma inequívoca, a sua insatisfação.

O mundo mudou daqueles bons tempos para ; hoje, supostamente civilizados, impregnados de calmantes até a raiz dos cabelos, quando muito chiamos no botequim e escrevemos crônicas, artigos e cartas para os jornais. Mas pergunto, honesta e sinceramente: vocês acham que alguém jornal em Brasília, exceto para pensar em formas de cercear a liberdade de imprensa e/ou processar jornalistas?!

Pela falta de resposta ao que antigamente atendia por "clamor popular", tenho a impressão que, nos gabinetes do poder, circulam apenas revistas de celebridades e livros para colorir, de preferência em cor-de-rosa. Quanto às autoridades, tendo chegado, cada qual, ao ápice do ser humano que lhes coube, preocupam-se apenas em enriquecer rápido, obter bons cargos para a famiglia e conseguir, em tempo recorde, aposentadorias que nós, otários, não veremos nem em sonhos, ainda que trabalhando a vida inteira.

Note-se que, nas declarações, está apenas o imposto que conseguimos distinguir como tal. Na segunda-feira mesmo, fatídico dia das contas com o fisco, publiquei no Info etc. o desabafo de um amigo que, seduzido por um notebook da HP, quase fez a besteira de comprá-lo pelos R$ 8 mil que custa no Brasil. Nos Estados Unidos, a mesmíssima máquina, com a mesmíssima configuração, sai pelo equivalente a R$ 2,5 mil. Ou seja, pagamos mais do triplo do preço porque, a cada computador comprado, o governo leva dois!

Meu amigo, camarada digno, correto, que gosta de fazer tudo nos conformes mas não é nem milionário nem trouxa, recusou-se a bancar o idiota e recorreu, obviamente, a um "esquema": se foi mais um cidadão do bem, empurrado para a ilegalidade por uma política corrupta e corruptora.

(...)

Somos o quarto país do mundo em arrecadação. Acho que nem eu nem vocês nos importaríamos tanto com isso se víssemos o nosso dinheiro bem empregado, se vivêssemos com segurança em cidades limpas e bem conservadas, se tivéssemos um bom transporte público, bons hospitais e escolas. Mas qual é o sentido de pagar impostos suecos vivendo num Haiti?!

Não sei vocês, mas eu, definitivamente, cansei de trabalhar para ver o meu dinheiro sendo atirado aos porcos. Cansei de trabalhar 216 dias por ano (!) para sustentar vagabundos. Cansei, caramba!,de pagar por serviços que não recebo. Tributaristas que lêem este desabafo: como faz uma pessoa física, assalariada, para depositar em juízo o dinheiro que lhe tomam em nome de falsas promessas de campanha?!

Extraído de Cora Rónai Blog 03/05/2007 - cora.blogspot.com


 

Roberto Carlos e sua biografia


Roberto Carlos, o cantor, conseguiu a retirada de uma biografia sua das livrarias. Rei que é rei não deve perder a majestade!

O que é "contexto desfavorável"?

Por Paulo Coelho

Tenho uma grande admiração por Roberto Carlos, recentemente, um dos mais importantes programas da Rádio BBC me perguntou a lista de cinco discos que eu levaria para uma ilha deserta, e incluí um dos seus. E, apesar dos problemas normais decorrentes de uma relação profissional, tenho um grande respeito pela editora Planeta, que publica minhas obras no Brasil e em vários países de língua espanhola.

Dito isso, é com grande tristeza que leio nos jornais que, na 20ª Vara Criminal da Barra Funda, em São Paulo, os advogados do cantor Roberto Carlos e da editora Planeta fizeram um acordo que prevê a interrupção definitiva da produção e comercialização da biografia não-autorizada "Roberto Carlos em Detalhes", do jornalista e historiador Paulo Cesar Araújo. O editor diz um disparate para salvar a honra, o cantor não diz nada e o autor fica proibido de dar declarações a respeito. E estamos conversados.

Estamos conversados? Não, não estamos, e tenho autoridade para dizer isso. Tenho autoridade porque, desde que publiquei meu primeiro livro, tenho sido sistematicamente atacado.

Creio que qualquer pessoa em seu juízo normal sabe que, a partir do momento em que sua carreira se torna pública, está exposta a ter sua vida esquadrinhada, suas fotos publicadas, seu trabalho louvado ou enxovalhado pelos críticos. Isso faz parte do jogo e vale para escritores, políticos, músicos, esportistas. Nem sempre essas críticas são justas e, muitas vezes, descambam para ataques pessoais.

Recentemente, um jornalista da mais importante revista brasileira disse que "Paulo Coelho não é apenas mais um mau escritor: seu obscurantismo é nocivo. Não se deve perdoá-lo pelo sucesso". Não sei o que estava propondo com essa frase, e não me interessa. Poderia alegar que minha honra está sendo atacada, que me acusa de ser um perigo para meu país, que deseja que eu seja preso. Mas vejo essas diatribes com outra ótica: elas fazem parte do jogo. A única coisa que não faz parte do jogo é a calúnia, e, pelo que me consta, isso não foi tema da ação judicial que levou à proibição de "Roberto Carlos em Detalhes".

Até hoje, desde que publiquei "O Diário de um Mago", há 20 anos, vi milhares de críticas negativas, mas apenas duas ou três calúnias a meu respeito, graças a Deus. Não me dei ao trabalho de contra-atacar porque não achei que valia a pena, embora me reserve esse direito se algo muito sério acontecer. Recentemente, em um jornal espanhol de primeiríssima linha, simplesmente inventaram uma resposta a uma pergunta a que havia me recusado responder. Claro, enviei uma carta ao diretor, e o jornalista teve que arcar com as conseqüências.

Estou pronto para defender minha honra, mas não vou perder um minuto do meu dia telefonando para um advogado e procurando saber o que faço para defender minha vida privada, que ela não mais me pertence.

Diz o velho ditado: "Quem está no fogo é para se queimar". Eu acrescento: Quem está no fogo é para ajudar a fogueira a brilhar mais ainda. Não adianta o meu editor declarar que fez o acordo "porque o contexto era desfavorável". Ele precisa vir a público explicar qual é esse contexto -ou seja, se estamos falando de calúnia. Neste caso, tem meu apoio integral, pois calúnia é sinônimo de infâmia. Mas, caso contrário, está colaborando para que comece a se criar um sério precedente -a volta da censura.

Roberto Carlos tem muito mais anos na mídia do que eu; devia ter se acostumado. Continuarei comprando seus discos, mas estou extremamente chocado com sua atitude infantil, como se grande parte das coisas que li na imprensa justificando a razão da "invasão de privacidade" não fosse mais do que conhecida por todos os seus fãs.

Também continuarei sendo editado pela Planeta, pois temos contratos assinados. Mas insisto: gostaria que minha editora, dinâmica, corajosa, se instalando agora no Brasil, explicasse a todos nós, brasileiros, o que significa esse tal de "contexto desfavorável".

Desfavorável é fazer acordo a portas fechadas, colocando em risco uma liberdade reconquistada com muito sacrifício depois de ter sido seqüestrada por anos a fio pela ditadura militar.

E não entendo por que você, Paulo Cesar Araújo, "se comprometeu a não fazer, em entrevistas, comentários sobre o conteúdo do livro no que diz respeito à vida pessoal do cantor" (Ilustrada, 28/4). Não é apenas o seu livro, cujo destino foi negociado entre quatro paredes, que está em jogo. É o destino de todos os escritores brasileiros neste momento.

Não sei se vou ter as explicações que pedi. Mas não podia ficar calado, porque isso que aconteceu na 20ª Vara Criminal da Barra Funda me diz respeito, que desrespeita minha profissão de escritor.

Jornal Folha de São Paulo, 02/05/2007 (Extraído de Cora Rónai Blog - cora.blogspot.com )



07 maio 2007

 

De La Hoya x Mayweather: Achei empate


Well, não achei uma grande luta. Foi a primeira vez que vi o tal falado e decantado Floyd Mayweather Jr lutar.
Tem boa técnica é verdade mas não vi nada de mais! Enfim, 2 jurados contra 1 consideraram que ele venceu, mas achei totalmente empate. Essa luta me lembrou outra: a inesquecível e histórica Marvin Marvelous Hagler x Sugar Ray Leonard, 1987. Hagler, a máquina de bater, determinado, sempre cercando, sempre em frente. E Sugar, o boxeur, esquivo, técnico, brilhante. Com minha fervorosa torcida ele venceu, mas revendo a luta anos depois penso que o empate era mais justo. Como aconteceu desta vez, Mayweather não foi tão melhor que Oscar De La Hoya para merecer a vitória.

04 maio 2007

 

A luta do ano! Nos sites de esportes e gerais nenhuma linha. Consta na grade da HBO Plus a transmissão neste sábado, a partir das 21:30h, mas sem destaque.

 

Os inimigos do ócio

Os inimigos do ócio

Por Domenico de Masi

De acordo com a mentalidade corrente, encorajada pela competitividade, o tempo livre e sua versão desprestigiada, o ócio, são aceitos apenas em baixíssimas doses, além de serem observados com desconfiança. Desastres como aqueles da Enron e da Parmalat, porém, foram provocados por empresários e executivos muito atarefados.

A sociedade industrial admite a folga do trabalho somente se ela objetiva três metas: recuperar a energia para voltar ao trabalho depois; procriar e educar a prole (vem daí a palavraproletariado”) para fornecer novas levas de trabalhadores às fábricas e ao Exército; freqüentar as celebrações religiosas no Dia do Senhor.

É como escreveu o filósofo Bertrand Russel: “A idéia de que os pobres possam estar ociosos sempre contrariou os ricos“. No passado, os empresários queriam que os trabalhadores ficassem em casa e fossem à igreja aos domingos. Os bares, a estrada, as reuniões alegres eram considerados antecâmaras da licenciosidade nesta vida, e do inferno na próxima. Nesse contexto, Henry Ford organizou uma densa rede de inspetores e atribuiu-lhes a tarefa de controlar os hábitos de seus operáriossobretudo daqueles que eram solteirosdurante o fim de semana.

Depois foi o próprio Henry Ford que compreendeu que um trabalhador centrado em fábrica, casa e igreja era útil apenas como produtor, mas inútil como consumidor. Foi assim que se iniciou, no Ocidente, a alienação total de nossa vida, constrangida a dividir-se entre o frenesi da produtividade durante o trabalho e o frenesi do consumismo durante a folga. No Oriente, as coisas não caminham para uma situação melhor. No passado, a cultura oriental elevava o ócio ao nível de arte. Mas, hoje, a adesão ao modelo americano se difundiu até alcançar o Japão; depois o vírus da hiperatividade industrial se alastrou para a China e a Índia.

As principais acusações que os bem pensantes formulam contra o ócio são, pelo menos, seis. A primeira consiste no senso de tédio e de vazio provocado pela disponibilidade do tempo livre. Esse tédio e senso de vazio que o ocioso sentiria acabaria por conduzi-lo ao álcool. À droga e a atos de violência, como estupros e vandalismo.

A segunda acusação no ócio uma atitude que acabaria por destruir a comunidade por meio da difusão do individualismo anárquico e egoísta.

A terceira acusação credita aos ociosos as crises econômicas e as quedas na Bolsa. Se o balanço mostra que o haver está no passivo, se as empresas estão falindo se os serviços públicos estão às moscas, a culpa é toda dos ociosos vagabundos e dos sindicatos que os defendem.

A quarta acusação teme que a expansão do tempo livre e do ócio possa provocar uma guerra entre os vadios e os laboriosos, com uma conseqüente possível instauração de regimes totalitários.

A quinta acusação na propensão ao tempo livre uma perigosa tendência à preguiça, à degeneração dos costumes, à crise da civilização. Mais ainda, na preguiça um defeito congênito dos países quentes, dos povos mediterrâneos, africanos e sul-americanos, incivilizados por definição e, portanto, condenados a uma miséria culpabilizada.

Finalmente, a sexta acusação é de ordem religiosa, pois o trabalho é um castigo divino imposto ao homem como expiação do pecado original. Como o ócio impede essa expiação, alimenta novos pecados.

Como se defender dos detratores do ócio? Contra eles funcionam as armas da sabedoria e da ironia. E, por ironia do destino, atualmente a relação das classes sociais com o ócio se inverteu. No passado, as pessoas comuns eram educadas para amar o trabalho e eram constrangidas a evitar o ócio, enquanto os aristocratas se dedicavam a ele tranqüilamente. No presente, são os ricossobretudo os empreendedores e os executivosque se esfalfam 12 horas por dia, mesmo nos feriados, enquanto os operários trabalham apenas 8 horas por dia e não mais que 5 dias por semana.

Fonte: Revista Época nº 443, 13/11/2006

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